quinta-feira, 25 de outubro de 2007

O encontro inexplicável

Eram 20h30 em ponto e lá estávamos os três sentados à mesa, como era habitual. O Jantar era servido àquela hora, se houvesse atraso era no máximo de 1 ou 2 minutos e já se ouvia um resmungar baixinho vindo da sala.
A minha mãe trabalhava que nem uma escrava durante o dia, e quando chegava a casa tinha de trabalhar que nem uma louca, a organizar tudo e a preparar o jantar para as 20h30 em ponto estar a comida na mesa. O meu pai era, e ainda é, o típico homem do século passado. Para ele, a mulher tem a obrigação de cuidar da casa e dos filhos, a única obrigação que ele tem dentro de casa é dar ordens e “manter o respeito”.
No que me diz respeito tenho uma relação muito boa com a minha mãe, mas infelizmente eu e o meu pai somos opostos e por isso o nosso convívio era insuportável. E foi por isso que saí de casa e decidi ir viver para um apartamento sozinha. Não aguentava ser censurada todos os dias. Um dia enchi, peguei nas minhas malas e pus-me a andar.
Quando saí do secundário decidi ir trabalhar, e agora decidi tirar o curso de Direito. Estou no 1º ano e como devem imaginar, não é fácil conseguir estudar e manter um apartamento sozinha. Mas nem pensei nisso quando saí de casa, tudo o que queria era ser livre e independente. A qualquer custo. Já vivia no meu novo apartamento há um ou dois meses quando me apercebi que as minhas “reservas” estavam no fim, precisava de arranjar dinheiro e rápido. Foi então que me lembrei de uma amiga minha, ela é prostituta, e tem muitos conhecimentos na noite. Era o ideal para mim. Trabalhar à noite. Assim durante o dia poderia continuar a estudar. E tanto quanto sabia, à noite ganha-se muito bem. Assim que lhe liguei ela disse-me que havia um bar que precisava de strippers… hesitei, mas tendo em conta a minha situação não podia recusar. Marquei um encontro com ela. Explicou o que fazer, tive meia dúzia de aulas e estava pronta para ir ao dito bar.
Quando cheguei, deviam ser uma 10h, o bar estava quase vazio, disseram-me para ir para os camarins e esperar que fosse chamada. Um gerentezinho de caca chamou-me a uma sala, pôs uma música e só disse: “Mostra lá o que sabes fazer”. A música ia a meio e já ele tinha desligado o rádio sem qualquer aviso. “Depois entramos em contacto contigo”. Saí da sala sem saber o que pensar. Não tinha percebido se tinha corrido bem ou não. Olho para o lado e a entrar num dos camarins vejo um vizinho meu, o dentista. Ainda lhe acenei, mas não reagiu.
O bar continuava com poucas pessoas, numa mesa estava uma miúda sozinha… aproximei-me, ela olhou e apercebi-me… era a enfermeira. Convidou-me a sentar e ficamos a ver o espectáculo que ia começar. Um travesti qualquer a cantar Whitney Houston. Foi então que olhamos uma para a outra e soltamos uma gargalhada, aquele não era um travesti qualquer. Era o nosso vizinho, o dentista.
No final da actuação veio ter connosco para pedir silêncio pois tinha uma imagem a manter. Sentou-se e ficamos na conversa, até chegar o dono do bar para pagar ao dentista o espectáculo da noite. Brilhante e inexplicável coincidência, era ele também um morador do nosso prédio, mais um vizinho que se sentou à mesa a partilhar o porquê da presença naquele bar.
Mas afinal, o que era aquilo? Alguma reunião de condomínio? lol

1 comentário:

O Empresário disse...

O Marcelo já falou comigo quanto ao teu trabalhito lá no bar. Um dia destes falamos.